
A PSICANÁLISE É UM TRATAMENTO PELA FALA
A psicanálise é um tratamento pela fala, e, portanto, é sua condição que aquele que o procura, se proponha a falar, fazendo-se ouvir. Trata-se do lugar que se estabelece também pelo fato do psicanalista se calar para ouvir o analisante. Implica, assim, em um convite: falar tudo o que lhe vier. Esta é a regra base do tratamento.
Ao mesmo tempo, é pela fala daquele que procura tratamento que a presença do psicanalista poderá se constituir. Dito de outro modo, a transmissão do inconsciente extrapola as condições concretas que fazem um atendimento ser dito presencial. Depende da instalação da transferência, onde o analisando faz do analista testemunho das formações de linguagem cuja origem é o inconsciente, mas, também, da resposta do analista à essa transferência, no que a sua resposta aponta para o inconsciente, sua experiência.
O campo textual do discurso do inconsciente constituirá e dará origem à fala e à linguagem de seu sujeito. Estes são os meios materiais necessários para que este encontro entre psicanalista e psicanalisando se dê, e com isso, a experiência da psicanálise, do inconsciente, do seu sujeito e desejo.
A procura pela análise pode se dar, muitas vezes, pelo sofrimento implicado no sintoma, esteja ele claro ou não para o indivíduo.
A resposta do analista, ao passar a determinar o que antes era opacidade daquilo que faz sofrer, tem o efeito de um ato que inaugura e faz surgir a possibilidade da escolha pelo tratamento. Ato que transforma o sofrimento do sintoma em questão. Assim, este mesmo sintoma que faz sofrer, é suposto dizer algo sobre o sujeito, sua vida, seus enganos.
As portas para tal passagem são abertas pelo alinhavar dos sons, percorrendo a experiência do inconsciente. Fazer-se ouvir implica, portanto, aceitar o convite de situar pela linguagem o que se busca e quem o busca. Propor-se a aceitar o ato de transformar o que se busca em um percurso é também fazer da causa dessa questão a causa da fala. É pela fala que se tornará possível recolher as marcas das experiências que fazem o indivíduo buscar o tratamento, marcas que são fragmentos de linguagem e que remontam a esta experiência de satisfação que pode causar mal-estar.
O que pode dar sentido para a entrada e continuidade deste trabalho, a experiência da análise, é a orientação pelo desejo. O desejo de reescrever a sua história passa pelo que surpreende ao irromper no alinhavar de suas tramas.
A primeira sessão
Nas primeiras sessões, escutaremos o que causou a procura pelo tratamento. A primeira sessão será paga se ambos concordarmos com a continuidade dos primeiros encontros e após acordarmos um valor. Este momento inicial, o das entrevistas, antecede a possibilidade de uma entrada em análise.
Na medida em que a psicanálise é um tratamento pela fala, é seu requisito que aquele que o procura se autorize a falar. Além, é claro, da necessidade de confiança naquele que escolheu para o ouvir.
A fala possui efeitos terapêuticos que podem acontecer já nas primeiras entrevistas, neste momento inicial, mencionado acima.
Esta fala é o que possibilitará o trabalho do psicanalista em constituir uma relação do psicanalisando com o saber inconsciente. O psicanalista também ponderará se está em condições de aceitar o pedido de tratamento. Estas primeiras sessões fazem parte do lugar cedido para que estas decisões se coloquem em jogo.