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CAROLINA FRANÇA BATISTA CRP 05/16.068
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SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA PSICANÁLISE

A psicanálise é uma prática constituída por Sigmund Freud. Médico neurologista de formação, sua propensão à investigação e pesquisa científica são determinantes na criação da psicanálise como método de tratamento clínico.   

Discípulo dos também neurologistas Charcot e Breuer, trabalhou com o primeiro no Hospital da Salpêtrière, ocasião na qual pôde abandonar o estudo do sistema nervoso e o uso de tratamentos elétricos. Dedica-se, então, à clínica da histeria através da hipnose. Com Charcot, Freud aprende sobre a prática clínica e a psicopatologia. Mediante esta experiência, posteriormente, Freud indaga Breuer à retomada do uso de seu método catártico.

Breuer, criador deste método, é também aquele que descobriu que os sintomas das histéricas tinham por fundamento cenas de lembranças passadas, que provocaram intensa impressão, mas que sofreram esquecimento. O método catártico consistia, então, em fazê-las se recordarem dessas vivências sob estado hipnótico (Freud, 
1914/1969), de modo a produzir uma retomada dos afetos que se apresentam de forma deslocada, mas que estavam implicados nestas lembranças. Sob hipnose e sugestão, a paciente fornecia as sequências de cenas constitutivas dos sintomas dos quais sofria, fornecendo o material para a pesquisa. 

Com o método de Breuer, torna-se possível a Freud aliar investigação e tratamento, já que a trama do que causa o sofrimento, em sua opacidade, se presentifica pela fala.

Freud não tinha especial predileção pelo uso da hipnose e da sugestão, além de se deparar com os limites destas técnicas. Decide escutar uma de suas pacientes quando ela o exorta ao silêncio, ele o acata. A importância de poder falar os seus pensamentos em seu encadeamento, em sua lógica, sem interrupção, encontra a razão dos primórdios da psicanálise como um tratamento pela fala, em associação-livre. A lógica pela qual as ideias se associam no pensamento é uma demonstração do inconsciente e de sua experiência.

Esta prática clínica possibilita a descoberta de uma Outra cena, uma das metáforas utilizadas por Freud para o inconsciente. Seja por uma impossibilidade de simbolização do sentido de certas vivências e pela subsequente negação advinda do eu, a partir de seus parâmetros morais e juízos de valor, os elementos do desejo e sua satisfação, rejeitados, sofrem um desligamento. Esses fragmentos passam a funcionar segundo um princípio diferente daquele que rege a consciência. A Outra cena se forma a partir dos traços mnêmicos, os traços de lembrança, deixados por experiências de satisfação, implicada no sintoma e na realidade psíquica.

A experiência com a hipnose e com o método catártico mostram, então, a divisão entre dois conjuntos distintos em um mesmo indivíduo, a consciência e o inconsciente. Assim, consentir em escutar as histéricas tem relação com Freud ter se atentado para o inconsciente, que se apresenta via as suas formações: um ato falho, um lapso, um esquecimento, um erro, um sonho, os sintomas. 

Esta experiência chama atenção de Freud para o fato de que o inconsciente, em sua regras de funcionamento, se apresenta como um texto a ser lido, decifrado.  

O funcionamento do inconsciente pela condensação de ideias e pelo deslocamento da energia entre ideias distintas são os fundamentos gramaticais da escrita dos processos do inconsciente e de seu discurso. A associação livre respeita a lógica do desejo, que em seu movimento de retorno a esses traços de lembrança,  desvela o sentido  dessas lembranças que encerram um afeto, deslocado pela distorção destes traços de lembrança, segundo o efeito da censura do eu.

Freud, S. (1914/1969). A história do movimento psicanalítico (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago.

© 2025 por Carolina França Batista

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